ORIGEM DE ALGUMAS PALAVRAS



cinico (de cão)

Uma das mais controvertidas escolas filosóficas da Grécia antiga era a dos cínicos, que desprezavam as aparências e as convenções sociais e pregavam uma vida radicalmente simples e independente. Não há dúvida de que o nome desta escola vem do grego kyon, kynos ("cão"), embora haja duas teorias diferentes para explicar esta origem. Uma a relaciona com o modo de vida de Diógenes, o mais famoso seguidor desta filosofia, que vivia ao ar livre, comendo o que encontrava nas ruas e fazendo suas necessidades em qualquer lugar; ele próprio se intitulava "o cão", e latia quando queria fazer críticas a alguém. A outra liga o nome ao ginásio denominado Cinosarges ("cão branco"), local onde lecionava Antístenes, o filósofo que fundou esta escola.

vacina (de vaca)

A palavra provém de vaca; na sua origem, era um adjetivo latino, presente na expressão variolae vaccinae - a "varíola das vacas". O médico inglês Edward Jenner (1749-1823) desenvolveu a idéia de inocular as pessoas com o vírus dessa varíola animal, muito mais fraca que a humana, provocando assim uma reação que deixava o organismo imunizado contra a temida doença. Hoje, a Organização Mundial da Saúde considera extinta a varíola em nosso planeta, mas o termo vacina continua a ser usado para abranger toda a inoculação que produza anticorpos protetores contra qualquer outra doença.

porcelana (de porca)

A porcelana, fabricada na China desde o séc. VII, foi introduzida na Europa pelos mercadores venezianos e portugueses do Renascimento. A louça feita com esse material leve e translúcido logo substituiu os pesados utensílios de cerâmica, metal ou madeira até então utilizados nas mesas européias, sendo batizada de porcellana pelos italianos, devido à sua semelhança com a textura branca e lisa de uma concha conhecida como porcella ("porquinha"), numa analogia de sua forma com o órgão sexual da porca. No famoso relato de Marco Pólo, do início do séc. XIV, aparece o termo usado tanto para a louça, quanto para o molusco.

canário (de cão)

O canário, o mais apreciado dos pássaros de gaiola, conhecido na Europa desde o séc. XVI recebeu esse nome porque foi trazido das Ilhas Canárias, hoje pertencentes à Espanha. No início da Era Cristã, Juba II, rei da Numídia, fez uma expedição a essas ilhas, onde teve a surpresa de encontrar numerosas matilhas de cães selvagens, de porte avantajado, levados para lá por possíveis viajantes do Norte da África. O fato o levou a chamar o arquipélago de Canariae Insulae (em latim, "ilhas dos cães"), o que faz com que canário seja da mesma raiz que canil ou canino.

gatilho (de gato)

Nas primeiras armas de fogo, fabricadas artesanalmente, decoradas com extremo requinte, a peça que segurava a pederneira (pedra que produzia a faísca para iniciar o disparo) costumava ser esculpida com a forma de cabeça de cão ou de gato. Desse costume proveio o nome das duas peças que manuseamos na hora de atirar: o cão e o gatilho. Embora originariamente ambos fossem nomes diferentes para a mesma coisa, pouco a pouco gatilho passou a denominar a parte em que se apóia o dedo para disparar o tiro, tecnicamente conhecida como disparador - e é nesse sentido que usamos a palavra metaforicamente, quando falamos de gatilho salarial.

músculo (de rato)

Vem do latim musculum, diminutivo de mus, muris ("rato"), a mesma fonte de onde proveio o famoso mouse do inglês e o nosso morcego (de muris caecus, "rato cego", como os antigos o chamavam). Esse estranho nome de ratinho foi adotado pelos primitivos estudiosos de anatomia porque certos músculos, como os do braço e os da perna, ao se contraírem sob a pele, dão a impressão do volume de um pequeno rato que se move sob um pedaço de tecido.

boato (de boi)

Contrariando o dito que do boi só não se aproveita o berro, a palavra boato vem do latim boatus ("mugido, berro do boi"). No séc. 17, o Padre Vieira ainda utilizava o termo para se referir a uma "gritaria; alvoroço", significado até hoje conservado no espanhol. Pouco a pouco, no entanto, boato passou a designar aquela informação, geralmente mal intencionada e sem fundamento algum, que as pessoas vão passando umas para as outras, como reses de um grande rebanho que vão se comunicando por contigüidade.
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